outubro 24, 2012

O Poeta do Povo!

O grito das massas e o Poeta do Povo!
A Revolução Cultural ocorrida no Teatro Nacional, na década de 60, teve seu marco no show “OPINIÃO”, de Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Vianna Filho. E esse espetáculo revelou para o Brasil toda a criatividade musical de João do Vale.

Considerado O POETA DO POVO, esse poeta maranhense soube captar o grito das massas, transformando-o em canções fortes e impactantes.
O compositor e cantor maranhense João Batista do Vale (1933-1996), que representou o grito contido das massas contra todo o tipo de injustiça social, conforme revela a letra de “Carcará”, simbolizando a vida difícil dos sertanejos, comparando-a à ave Carcará, que tem que matar para sobreviver.
Entretanto, o ”Carcará” desta letra tinha também um outro significado, ou seja, era considerado herói, na época, porque simbolizava uma juventude que lutava contra a ditadura militar para defender o povo brasileiro.

Historicamente, em 1964, João do Vale participou do show Opinião, que foi apresentado no teatro do mesmo nome, no Rio de Janeiro, ao lado de Zé Kéti e Nara Leão, tornando-se conhecido principalmente pelo sucesso da música “Carcará”, a mais marcante do espetáculo.

A REVOLUÇÃO NO TEATRO NACIONAL

O teatro brasileiro vem desde os primórdios da colonização portuguesa. Mas só nos anos 50, começa a tomar forma a retratar a sociedade paulista com Jorge de Andrade enquanto Ariano Suassuna inova no teatro regional. Em 1948, Alfredo Mesquita funda a Escola de Arte Dramática - EAD, em São Paulo e Maria Clara Machado, em 1950, abre o Tablado, no Rio de Janeiro.

No final da década de 50 e início dos anos 60, a prioridade do então poderoso TBC - Teatro Brasileiro de Comédia para as peças e autores estrangeiros, leva os autores e atores nacionais a procurarem outro caminho vendo, no teatro, um meio válido para buscar a transformação da sociedade brasileira.

A Revolução Cultural do Teatro Brasileiro, na década de 60, a nosso ver, está marcada pela atuação teatral e política de dois grupos teatrais: o TEATRO DE ARENA, de São Paulo, sob a direção de Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Vianna Filho; e o GRUPO OPINIÃO, do Rio de Janeiro, sob a direção de Paulo Pontes , Oduvaldo Vianna Filho, Armando Costa. Na verdade, atuavam em perfeita simbiose.

Em 1965, no Rio de Janeiro aconteceu a apresentação revolucionária do "Show Opinião", com Zé Kéti, João do Vale e Nara Leão. Os autores do espetáculo, Armando Costa, Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pontes deixaram claro que "...é preciso restabelecer o teatro de autoria brasileira - não somente o teatro do dramaturgo brasileiro - o espetáculo do homem do teatro brasileiro. É preciso que finalmente e definitivamente nos curvemos à nossa força e à nossa originalidade".

Com direção geral de Augusto Boal e direção musical de Dorival Caymmi Filho, o espetáculo trazia a música de Zé Kéti e João do Vale em cima de ampla pesquisa na autêntica música popular brasileira.

“O espetáculo tem duas intenções principais. Uma é a do espetáculo propriamente dito, Nara, Zé Kéti e João do Vale tem a mesma opinião, quando se alia ao povo na captação de novos sentimentos e valores necessários para a evolução social; quando mantém vivas as tradições de unidade e integração nacionais. A música popular não pode ver o público como simples consumidor de música; ele é fonte e razão da música.

Com esse espírito é que João do Vale – o poeta do povo! - descreve quase sempre uma contradição; a vontade e a força de sua gente, o amor que dedicam à terra e a impossibilidade de usá-la em proveito próprio. O lamento antigo permanece, acrescido de uma extraordinária lucidez” (do histórico do show “Opinião”)

CARCARÁ

Composição: João do Vale/José Cândido

(Glória a Deus Senhor nas altura
E viva eu de amargura
Nas terra do meu senhor)

Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que homem
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Lá no sertão
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará
Quando vê roça queimada
Sai voando, cantando,
Carcará
Vai fazer sua caçada
Carcará come inté cobra queimada
Mas quando chega o tempo da invernada
No sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim num passa fome
Os burrego que nasce na baixada
Estribilho
Carcará é malvado, é valentão
É a águia de lá do meu sertão
Os burrego novinho num pode andá
Ele puxa no bico inté matá
Carcará
Pega, mata e come!

5 comentários:

Delmanto disse...

O show “OPINIÃO” é o grande marco do Teatro Nacional. A partir daí a “alma nacional” passou a se mostrar e a dar voz as aspirações populares. E o Grupo Opinião e Teatro de Arena estavam na “vanguarda” desse movimento.
Depois com “LIBERDADE, LIBERDADE!”, atingiu o seu ápice com a interpretação magistral de Paulo Autram.
E nesse movimento que passou a mobilizar o país, encontrou nas músicas engajadas de João do Vale – O Poeta do Povo! – a “ligação direta” com o povo brasileiro, carente de uma comunicação que realmente mostrasse os seus problemas e as suas aspirações. João do Vale, ao lado de Zé Kéti e Nara Leão, exerceram bem esse importante papel de interlocutores com o sofrido povo brasileiro.
E João do Vale, o poeta maranhense, com a música “Carcará”, deu força ao sofrido povo nordestino em sua luta contra a exclusão social.
Posteriormente, Maria Bethânia substituiu Nara Leão no show “Opinião” e se consagrou com a interpretação de Carcará. A partir daí, todo o Brasil passou a conhecer e a admirar a maior interprete nacional.
É REGISTRO HISTÓRICO!

Anônimo disse...

Boa lembrança, Delmanto. O Brasil está precisando de muitos “Grupos Opinião” e muitos “Teatros de Arena”! É preciso mobilizar o povo brasileiro e, principalmente, a nossa juventude que está completamente alienada e desinteressada dos problemas nacionais. A UNE que no passado representou a linha de frente da luta popular por reformas e contra as injustiças sociais está, há anos, atrelada ao governo federal, vivendo de verbas públicas sempre sob o comando do atrasado PCdoB, só ficam “mamando nas gordas tetas” do governo e deixaram de representar os jovens brasileiros.
Mas é preciso reagir! É preciso mudar!
O PT e o PSDB tiveram 8 anos cada um para apresentarem um modelo de desenvolvimento para o Brasil. E, por 16 anos, aplicaram uma política econômica NEO-LIBERAL que deixaria qualquer partido de direita com a certeza de que as suas bandeiras foram “roubadas” por essa “falsa esquerda” que, chegando ao PODER, passaram a ter o mesmo procedimento político e econômico dos antigos governos
E ainda nos legaram o MENSALÃO e os escândalos que o precederam como a COMPRA DE VOTOS PARA A REELEIÇÃO e o MESALINHO (PSDB) de Minas Gerais.
Chega!
Queremos Partidos Políticos LIMPOS!
Carcará!
Pega mata e come!!!
(carlosantoniomascarenhas@yahoo.com.br)

Anônimo disse...

Ana Maria Nogueira Pinto Quintanilha Facebook):
João do Vale, Gianfrancesco Guarnieri, Oduvaldo Vianna Filho, são ícones de toda uma geração. Eu, ainda bem garota, cheguei a testemunhar o ideal destes guerreiros.

Anônimo disse...

Joana Sant'Iago( Facebook):

revi um filme... obrigada Armando Moraes Delmanto

Anônimo disse...

Beth Muniz (Dihitt):
Lido, votado e indicado.
Compartilhado no G+.
Te sigo aqui e no seu blog.
Um abraço.

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